A alopecia é uma doença que pode ser tratada

Jéssica Guidolin

Segundo especialistas, não há idade específica para
desenvolver  a doença.
Foto: Vanessa Lemes
Palavra que pode não ser tão presente no cotidiano de alguns, mas que atinge parte da população. Você já ouviu falar sobre essa doença? Pode ser definida como a perda ou redução de cabelos e pelos no corpo. Sejam por motivos adquiridos ou congênitos, aqueles que nascem com o indivíduo. Segundo o dermatologista Mario Chaves, da clínica Derma Gávea, as alopecias congênitas são muito raras. Elas apresentam a ausência ou atrofia da raiz do pelo.

Androgênica masculina e feminina, de tração e areata são alguns dos tipos de alopecias que existem. Não há idade específica para desenvolver a doença, porém, segundo a dermatologista Cristiane Braga, quanto mais cedo se apresentam os sintomas mais grave é. Por exemplo, uma menina de treze anos que apresenta sintomas de alopecia terá um desenvolvimento mais acentuado da doença do que uma senhora na pós-menopausa, onde os sintomas são mais amenos.

Presente na maior parte das vezes em homens, segundo Chaves, mais precisamente em 50% do sexo masculino, a alopecia androgênica é classificada como uma alopecia não-cicatricial, pois não deixam atrofias ou cicatrizes no local afetado. “Esse tipo de alopecia é tão comum que, na maioria dos casos, deve ser encarada mais como uma característica física do que como doença”, declara. Ele complementa que ao menos 80% dos homens apresentarão sintomas aos 70 anos de idade.

A perda de cabelo na parte da frente da cabeça e a formação de ‘entradas’ na lateral são características que afetam os homens com alopecia androgênica, geralmente depois dos 50 anos. Porém, o processo é acelerado no caso de as características já terem se desenvolvido bem cedo, na juventude. “A evolução é mais rápida e a calvície tende a atingir quase todo o couro cabeludo, poupando somente as têmporas, localizada na região inferior e lateral da cabeça”, explica Chaves.

Para a vítima da doença, essa situação pode não ser tão fácil de aceitar. É o caso do ator Gehad Hajar que começou a reparar os sintomas quando tinha 18 anos de idade. Onze anos se passaram, e ele continua tomando remédios e tratando sua alopecia. Essa situação o incomoda por causa da sua profissão. “Ator ou é careca ou não é, não existe meio termo. A questão nem é se sentir feio ou bonito, e sim o padrão que é imposto devido ao trabalho”, declara.

Em casos que atingem o sexo feminino, há uma diminuição dos cabelos na parte frontal da cabeça, no ‘teto’ do crânio, inclusive o afinamento dos fios. Chaves alerta que é necessário verificar a presença de distúrbios menstruais, infertilidade, crescimento excessivos de pelos em áreas que são comuns em homens, acne, obesidade e diabetes, para que se possam diagnosticar outros distúrbios que estão associados a esta doença.

Movimentos repetitivos através de chapinhas ou tranças que puxam muito o cabelo, podem enfraquecer o folículo e desenvolver a alopecia de tração. O folículo fica frágil devido às puxadas para fazer os penteados, alisamentos e outros procedimentos. Cristiane detalha que este tipo de alopecia é muito comum em pessoas negras na faixa etária de 30 a 40 anos por apresentarem o hábito de utilizarem penteados que tencionam o cabelo.

A alopecia areata, popularmente conhecida como pelada, se apresenta em locais como barbas e cabelos, áreas redondas e ovais em que há a ausência de pelo ou cabelos. “Se a doença se desenvolver até os cinco anos de idade, ela foi adquirida geneticamente. Mas, se for desenvolvida mais tarde, então o problema apresentado tem outros motivos”, explica Cristiane. Esse tipo de alopecia pode ser associado com doenças da tiroide, bem como alergias respiratórias, vitiligos e alergia na pele. Mario informa que cerca de 2% da população, tanto homens como mulheres, são atingidos por esse tipo de alopecia.

A historiadora carioca Patrícia Costa, 44, descobriu que tinha alopecia areata em fase inicial, no fim de 2011. Por achar bonito o estilo ‘careca’, desde 2010 começou a raspar a cabeça um dia sim e outro não. Mas um dia resolveu deixar o cabelo crescer, e percebeu quem em alguns pontos de sua cabeça, os fios já não cresciam. Em determinada época, Patrícia também já havia perdido as sobrancelhas.

Entendendo mais casos

Existem situações que ainda podem afetar todo o organismo, como nos casos de Eflúvio Telógeno, caracterizado pela queda acentuada dos cabelos. Cerca de 50 a 100 fios de cabelo caem diariamente. Quando se apresenta essa doença, os fios caem em exagero, mais do que esse número comum.

Há vários motivos para o desenvolvimento da doença. Pode ser causada por mudanças na saúde da pessoa, tanto patológicas como fisiológicas. A intensidade da queda dependerá do motivo que desenvolveu a doença.

Como se não bastasse, ainda existem casos de tricotilomania em que a pessoa apresenta compulsão ou mania de puxar o próprio cabelo. “É mais comum no sexo feminino e em crianças. O início da doença é geralmente entre os 5 a 12 anos de idade”, detalha Chaves. Associa-se ao estresse ou a desordem de personalidade.

Tratamentos 

“Existem tratamentos diversos, porém diferenciados para cada tipo de alopecia”, afirma Cristiane. Segundo a dermatologista, depende da causa e do momento da pessoa, pois às vezes a doença pode ser autoimune, e neste caso é preciso tratar da situação. Mas há outros motivos, como por exemplo, estar associada ao estresse. Nesse caso é preciso tratar da tensão de maneira específica.

Além do acompanhamento com um dermatologista é necessário haver um tratamento multidisciplinar – com outros especialistas. “A maioria dos casos que necessitam de terapia são de pessoas mais jovens que têm dificuldade de aceitar a doença”, revela Cristiane.

Hajar usa 15 remédios. Sete deles estão unidos em uma cápsula e os outros estão distribuídos em dois medicamentos que aplica na cabeça. Seu gasto mensal, apenas com isso, é de aproximadamente R$ 400,00.

Além desse tratamento, o ator já pensou em fazer implantes, porém, seu médico lhe explicou que em 15 anos esse procedimento será possível através de células tronco. Mesmo tendo a possibilidade de, no seu caso, criar cicatrizes que se projetam além da superfície da pele, as famosas quelóides, Hajar tem se informado sobre o assunto para poder realizar o procedimento.

No caso de Patrícia, devido à queda de suas sobrancelhas, que foi o que mais a incomodou, ela começou o tratamento com uma loção composta de minoxidil, que é uma substância que melhora a circulação sanguínea no couro cabeludo, e com isso favorece a nutrição da raiz e do fio.

Loções capilares, pomadas, medicamentos orais e vitaminas são soluções encontradas para as alopecias. Deve-se procurar um dermatologista e ele aplicará o tratamento adequado.

Antes mesmo do desenvolvimento da doença é possível prevenir, em alguns casos. “A prevenção mais eficaz é a da alopecia de tração. Para evitar esse tipo de perda de cabelos, as mulheres devem evitar o uso de tranças e de chapinhas”, orienta Chaves.

Ter uma alimentação saudável, estar sempre atento quanto às mudanças que podem ocorrer em seus cabelos, usar shampoos e condicionadores adequados podem ajudar na amenização e prevenção das alopecias.

Aceitação

A aceitação da sociedade diante dessas pessoas que sofrem dessa doença é um tanto contraditória. Ainda existe rejeição, porém muitos reconhecem e admiram a força que têm por enfrentar essa situação.

Patrícia explica que há uma relação de amor e ódio. Alguns falam mal, cedem lugar em transportes públicos e olham com expressão de pena. Porém, muitos elogiam, cumprimentam e acham que é um estilo diferente. “É complicado porque as reações de ambos os lados são sempre extremas. O mundo não está preparado para uma mulher careca. Mesmo na televisão quando aparece alguma é por motivos de doença. Isso só reforça o estigma”, argumenta.

“Hoje em dia existe a busca por um padrão de beleza. Não só em questão de cabelo, mas em questão de tudo. Tudo é percepção do que pode ser bonito”, declara Vanessa Versiani, consultora de imagem.

Essa aceitação também pode ser difícil não só para os que estão ao redor, mas também, para os próprios vitimados. “Pode parecer um problema simples, algo comum de se ver, mas só quem tem sabe como é angustiante e o quanto isso mexe com nossa autoestima”, desabafa Hajar. Para ele, se criou quase um tipo de trauma.

Patrícia achou estranha uma situação que antes era raspar os cabelos por opção, e agora se tornou uma obrigação. Apesar disso, resolveu não tratar na época que descobriu, pois gostava do seu visual. “Sem cabelo é um mundo de novas sensações. Tomar banho de ducha é diferente, nadar no mar é gostoso, pois se sente a água na cabeça toda”, revela.

“É questão de ter consciência e procurar um médico e fazer tratamento, ou encarar isso como opção”, destaca Versiani.

Prevenção 

“A prevenção mais eficaz é a da alopecia de tração. Para evitar este tipo de perda de cabelos, as mulheres devem evitar o uso de tranças muito tensas e de chapinhas”, orienta Chaves.

Uma alimentação saudável, estar sempre atento quanto às mudanças que podem ocorrer em seus cabelos, o uso de shampoos e condicionadores adequados podem ajudar na amenização e prevenção das alopecias.
Tags: ,

Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

0 comentários

Comente Esta Notícia